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CAUSA DA DESISTÊNCIA DE CURSOS UNIVERSITÁRIOS NA VISÃO DOS ALUNOS


Entrevista feita por Gaioso (2005) a mais de 35 alunos, onde definiu as causas em nove grupos como segue:

– FALTA DE ORIENTAÇÃO VOCACIONAL E IMATURIDADE – mudança ou abandono de curso.

“Fiz três testes com o mesmo profissional, dois indicaram a área de humanas e um de exatas. Procurei outro que me atendeu em duas sessões: na primeira, eu deveria seguir a área de exatas e na seguinte, a de humanas. Engenharia estava na moda, optei pelo curso e não gostei”.

“Nem sabia em que consistia o trabalho do engenheiro, ouvia sempre que era um trabalho rentável e uma profissão que orgulhava os pais. Daquelas coisas: toda família quer um filho engenheiro, um médico e um advogado. Na minha já havia os dois últimos; logo, tentei preencher a vaga que restava”.

 REPROVAÇÕES SUCESSIVAS – desistência por causa de disciplinas consideradas difíceis, dificuldades de aprendizagem, hábitos que não contribuem ao estudo.

“Passei para Engenharia, mas parecia um espectador das aulas, não entendia nada, estudava muito e me saía mal, não conseguia compreender a estruturação de solução dos problemas. Reprovei duas vezes em Cálculo I e outra em Cálculo II. Descobri que não tinha base para o curso. Voltei para o cursinho; passei para Agronomia. Agora estou integrado”.

– PROBLEMAS FINANCEIROS – luta pelo sustento da família e custeio dos estudos, falta de tempo para se dedicar aos estudos e salários insuficientes para cobrir os custos.

“Meu sonho é me tornar advogado, mas não dá, tenho que trabalhar para garantir a sobrevivência da minha família”.

– FALTA DE PERSPECTIVA DE TRABALHO – com a procura de melhores condições de trabalho e salariais, provoca busca de cursos que garantam isso, porém nem sempre condiz com perfil de habilidades do aluno.

“Desde pequeno dizia que queria ser Engenheiro, sempre estudei pensando nisso. Quando entrei na universidade, as discussões sobre as condições de trabalho me causaram grande desilusão. Comecei a verificar as possibilidades de trabalho para um recém formado e desisti do curso. Fiz outro vestibular, na mesma IES, fiz Hotelaria”.

– AUSÊNCIA DE LAÇOS AFETIVOS NA UNIVERSIDADE – falta de grupos de relacionamento para dividir ansiedades, estudos, troca de ideias ou mesmo encontro fora de aula.

“Durante o ensino médio a gente saía junto, uns defendiam os outros; na universidade era cada um por si. Eu me sentia perdido, sem chão, faltava vínculo afetivo”.

– BUSCA DE HERANÇA PROFISSIONAL – jovens filhos de profissionais bem sucedidos optam pela profissão dos pais, por admiração, expectativa de menos luta na conquista de clientes.

“Ainda muito pequeno, vestia-me de branco e dizia que iria para o hospital. Todos me aplaudiam, eu me sentia amado. Cresci assim, seguir os passos de meus pais, médicos no interior, era uma questão fechada: eu teria que seguir o mesmo caminho. Minha mãe sempre dizia que depois que eu me formasse, trabalhariam menos ou, talvez, deixassem o hospital para mim e iriam descansar. Aos dezesseis anos, passei no vestibular numa federal, me decepcionei muito. Não suportava as aulas, no final do segundo semestre, tranquei a matrícula, passei para Engenharia Florestal, na mesma universidade”.

– FALTA DE UM REFERENCIAL NA FAMÍLIA – filhos de pessoas que ganham muito dinheiro sem terem curso superior costumam abandonar os estudos com maior facilidade.

“Meu pai é médico, empregado em uma prefeitura, próxima aqui da capital, ganha pouco e trabalha muito. Minha mãe não fez faculdade, é uma artista. Na época do vestibular, foi a maior pressão para eu fazer Medicina, tentei quatro vezes e passei numa particular. Estudei durante quatro semestres, quase forçada, nunca gostei do curso. Um dia decidi deixar tudo e trabalhar com minha mãe. Temos uma casa de festas, nos encarregamos de realizar o sonho das pessoas. Somos felizes”.

– ENTRAR NA FACULDADE POR IMPOSIÇÃO – imposição dos pais ou responsáveis para ingresso cedo na universidade diante da escolha de qualquer curdo, sem a menor aptidão para tal, apenas visando obter mais liberdade.

“Não tinha maturidade para escolher a profissão, minha mãe falava o tempo todo que eu tinha que passar no vestibular. Era muita pressão, eu queria ficar livre, o importante era passar para qualquer coisa, como tive apoio para cursar Direito, fiz por fazer. Estudei apenas um semestre, no ano seguinte fui aprovado para Turismo na mesma faculdade”.

 CASAMENTOS NÃO PLANEJADOS/ NASCIMENTO DE FILHOS – jovens mulheres em condições financeiras menos favoráveis, costumam abandonar os estudos como consequência de uma gravidez indesejada e/ou casamentos não planejados.

“Fiz tudo para continuar estudando com filhos pequenos. Moro longe da minha família, nunca conseguia uma pessoa de confiança para cuidar deles, enquanto eu ia para a faculdade; meu marido trabalha e não pode me ajudar. Tranquei a matrícula há dois anos. Se as coisas não mudarem, vou acabar perdendo o direito de continuar”.

PROGRAMAS PARA REDUÇÃO DA EVASÃO DAS UNIVERSIDADES

– Soluções interdisciplinares para que o curso se torne mais atraente e para que a individualidade do aluno seja respeitada.

– Maior integração do estudante com a instituição, fazendo com que ele se sinta parte do processo e fique mais comprometido com o curso.

– Auxílio ao estudante na organização dos estudos e ao não abando do curso.

– Concessão de descontos e programas de financiamentos próprios com juros mais baixos que os de mercado àqueles que não conseguem financiamento do governo.

– Concessão de bolsas de estudo conforme a situação financeira do aluno e dedicação.

– Programas que visam a integração proativa do aluno na universidade, com ações que promovem a integração pessoal, social e acadêmica do estudante, destacando-se:

– criação de gráfica/editora para capacitação profissional dos que necessitam trabalhar e não conseguem emprego;

– serviço de apoio e orientação psicológica aos que convivem com situações trágicas ou problemas pessoais mais graves;

– concessão de descontos aos provenientes de escola pública, que obtém boa classificação no vestibular;

– integração com a comunidade nos arredores da instituição, na busca de boa relação com a universidade, com vistas à redução da violência intra e extra universitária.

– Grade aberta a fim de que as matrículas se efetivem conforme as possibilidades financeiras e disponibilidade de tempo.

– Alteração periódica da grade curricular, ao deixar disciplinas mais difíceis para o final, quando o aluno se encontra mais integrado.

CONSIDERAÇÕES

A maioria das turmas das Universidades são repletas no primeiro semestre e a partir do segundo ficam cada vez mais vazias.

Campanhas publicitárias, redução de mensalidades, aumento do número de alunos por turma inicial, reduzindo ou juntando as turmas no decorrer do curso, menores exigências nas provas de seleção (muitas universidades consideram Nota igual ou superior a 300 no Enem, aptos a matricula sem necessidade de prestarem vestibular), criação de escolas próximas às residências dos alunos, muitos investimentos na qualidade de ensino.

Na visão de ex-alunos e dirigentes de universidades, a falta de orientação vocacional e imaturidade, falta de apoio, deficiência na formação básica, horário de trabalho incompatível com os estudos, busca de herança profissional, entre outros acabam culminando no abandono do curso pelo aluno.

Com índices médios de 40% de abandono de cursos universitários, muito deve ser feito para jovens do ensino médio.

Por Luis Maurício Valente Tigrino

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